Sábado, 18 de abril, 08:35 hs.
Às vezes esqueço que tenho uma espécie de compromisso auto-terapêutico
e passo um período longo sem atualizar este espaço tão importante pra mim.
É um abrigo virtual, que pode ser acidentalmente acessado
pela indiferença de qualquer pessoa, mas não é habitado por ninguém. Lugar
que muitas vezes por mim fica anestesiado.
Esta semana algo me fez vir aqui neste abrigo, rever certas
coisas, especialmente constatar esta velocidade tão desproporcional que o tempo
tem; ora a meu favor, ora contra mim. O fato é que o tempo a mim, é desproporcional.
Mas enfim, atualizando certos acontecimentos...
No fim do ano passado, por inúmeras razões de cunho
administrativo e também pessoal, fiz minha última apresentação no Grupo
Maracahyba. Cuidei para sair sem macular a história do grupo, e sem deixar
qualquer mal estar nos colegas com quem trabalhei, profissionais esforçados dos quais serei
sempre grata pelos momentos de cumplicidade musical que compartilharam comigo, momentos que jamais esquecerei.
A partir daí voltei a ter um pouco de liberdade para
escolher cantar de uma forma mais descompromissada, com menos frequência e num
universo que eu julgue mais suave.
Então, no dia 13 de março fiz aniversário. Cansada de
aniversários "em branco", e como geralmente fico carente nível grave nesta data, eu
mesma providenciei uma comemoração do meu jeito e fazendo o que gosto, numa
reunião de colegas e de músicos que me acompanharam, fazendo pela primeira vez um som temático:
Salvador Retrô!
Fizemos músicas do auge dos carnavais da Bahia, e foi um fim
de tarde animado, ainda que a maioria das pessoas fosse estranha, (já que o
restaurante é aberto ao público) grande parte foi bem participativa, o que me
deixou satisfeita!
Já acostumei a lidar com um sentimento que existe pós-realização.
Antigamente, quando voltava pra casa após uma apresentação, ainda em baixo do
chuveiro eu percebia subitamente o fim do frenesi, e prestes a deitar sentia as
nuances de uma melancolia. Hoje instintivamente abstraio estas coisas ainda no
processo de término de algum evento.
Foi bom, e não sei quando voltarei a cantar, ou se voltarei, e esta liberdade de escolha me deixa tranquila.
Tenho prazer em dedicar-me à minha casa, minha família, minhas
plantinhas, meus cachorros e meus detalhes...
Gosto desta realidade de mãe, de esposa, de dona de casa, e
sinto isso tudo inerente à minha natureza feminina.
Natureza que geralmente passa por um outono avassalador e uma primavera colorida, no início e fim de um único mês.
Este mês antecede um mês muito especial e marcante em minha
vida, dentro da minha visceral maternidade. Maio é o nome daquele mês em que
experimentei grandiosas controvérsias
divinas, em anos diferentes.
Primeiro dia e último dia.
Morte e nascimento.
Samuel e Josué.
Lágrimas de dor e lágrimas de risos.
2009 e 2011.
E... ... ... ...
Enquanto isso, o tempo me segue, me atropela, me ultrapassa, e a cada passagem me confirma o quanto ele me é desproporcional.
PS: Às vezes tenho sessenta anos, outras vezes nove, algumas vezes dezesseis, oitenta, outras vezes trinta, e quase nunca a minha idade liga o número a minha pessoa.
Por Suely S Araújo
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